O casamento já tinha acabado, não éramos mais uma família, não sei ao certo quando acabou se foi no final de março de 2019 quando ele comunicou que sua mãe tinha lhe dado uma terra em Canavieiras (uma inverdade) ou quando ele começou a enviar mensalmente seu benefício para o caseiro que cuidava da terra ou quando ele conseguiu vender a terra e ao receber R$ 50.000,00 não incluiu eu ou a nossa casa na hora de investir esse dinheiro ou quando ele foi pra Bahia pra aguardar o restante do pagamento e ficou 92 dias lá, ou se foi quando eu achava engraçado ele ficar falando com o Google "trator", "caminhão" .... é impossível dar uma data exata para o término.
Mesmo sem uma data específica, era óbvio que tinha acabado o nosso casamento, a separação de corpos contou legalmente desde 19 de janeiro de 2021, somente em dezembro do mesmo ano eu consegui tirar a aliança do dedo, a foto dele do celular e removê lo do grupo de Whatsapp da família, achei que assinar o divórcio, oficializar o fim seria mais fácil.
Eu não tenho cachorros e nem gosto de cachorros e gatos, mas sou rodeada por pessoas que amam os animais, e ao assinar o divórcio senti provavelmente a mesma dor que meu primo ou minha amiga sentiram quando tiveram que sacrificar o seu cãozinho, apesar da certeza de que fizeram tudo o que estava ao seu alcance, que não tinha mais nada para fazer, na cabeça somente os bons momentos, gratidão por tudo o que viveram juntos, mas é hora de partir, chega de sofrimento e a eutanásia, a injeção do divórcio, foi preparada com competência e cuidado pela doutora Camila Garcia, minha amiga e advogada e agora proclamada "madrinha de divórcio", preparou os documentos, fez contato com o cartório e estava lá com a gente, aplicando a injeção, assinando aqueles papéis com o suporte de outras profissionais, uma última pergunta se era aquilo mesmo, o Zé surpreendentemente respondeu com um sim mais alto que na igreja, claro que não perdi a piada, queria que fosse leve talvez se ao invés de divorciada colocassem "tá na pista" ou se voltasse o "solteira" que usei por 41 anos mas não eu sou divorciada, uma mulher divorciada, o para sempre não foi pra sempre.
Agradeço a todas as pessoas que rezaram pelo nosso casamento, creio que as orações foram fundamentais para que pudéssemos nos divorciar, sem culpados, sem ressentimento e sem mágoas.