sexta-feira, 24 de abril de 2015

GREVE

Em 1993 ainda na faculdade comecei a dar aula sobre a influência de uma grande amiga, Luciane Mansano, embora eu nunca tivesse dado aulas e a chance de eu conseguir atribuída alguma sala fosse mínima, a minha amiga conseguiu pegar todo um período da manhã na EE Profº João de Barros Pinto mas para isso teve que passar o meu contato para o diretor da escola, professor Cerezani, para que eu ficasse com as quatro turmas da tarde que ela não conseguiria pegar.
Na mesma época fui chamada para dar aula na EE Prof. Aristides Greve, lá por ser escola padrão o critério para contratação de professor era um questionário e uma entrevista e fui seleciona apesar da falta de experiência.
Estava amando dar aula, principalmente no João de Barros onde fui bem recebida, no Aristides eu não gostava, os alunos não me respeitavam e eu não tinha o apoio da direção e dos professores de sala, porém lá eu consegui uma turma de ensino médio para dar aulas de teatro, parecia um sonho poder dar aula de teatro para adolescentes, terminava a aula e eu ia com os alunos para a minha casa comer alguma coisa, era realmente bacana porém começaram a falar em greve.
É claro que eu não queria parar, apesar de receber um vale refeição de R$ 2,20 que não comprava nem uma coxinha na época, eu não queria parar de jeito nenhum, sabia do salário baixo quando fui fazer a faculdade, não podia parar, eu estava só começando.
No João de Barros, tinha uma professora de Educação Fisica, Estelina, que pegou muito pesado comigo, que eu merecia o meu salário entre outras coisas, mas não parei, fui a única professora a trabalhar depois de uns dias no Aristides não me deram a mesma abertura, o diretor fechou a porta da escola e pronto, até pensei em dar aula para a turma do ensino médio na rua ou em casa, mas não existia internet, whats app, ... e tive que parar involuntariamente.
Já que parei, me juntei ao grupo de professores da faculdade que também estavam parados e comecei a ir ir nas assembleias no sindicato dos Metalurgicos em Santo André e nas assembleias em São Paulo, foram 79 dias de greve, falando mal do Fleury no meio da rua, na primeira manifestação já parei de olhar para o meu próprio umbigo e vi que a luta ia além do salário.
A minha mãe não conseguia dormir sonhando com os cachorros e cavalos presentes nas manifestações, não era fácil parar a Avenida Paulista como é hoje, foram vários enfrentamentos e a greve parecia não terminar mais.
Os professores aos poucos foram voltando, inclusive a tal professora Estelina e eu me mantive firme na greve. No final fui a última permanecer em greve, até que na última assembleia o governo ainda não tinha cedido e os manifestantes com os braços erguidos votaram a continuidade da greve, porém o sindicato nos disse que teríamos que voltar, que o término da greve foi opção da assembleia, eu não acreditava naquilo, jurei que NUNCA MAIS faria greve em minha vida.
Em 1994, quando voltaram a falar em greve novamente, desisti do magistério.
Mas em 2000, após votar no PSDB voltei para a sala de aula como professora efetiva, prestei o concurso a pedido da mesma amiga, Luciane Mansano, que me conseguiu as primeiras aulas da vida. Todo mundo reclamava do PSDB na sala dos professores, reclamavam das mudanças, mas pra mim era um monte de gente velha com pouca disponibilidade para mudança, agora vejo que eles sempre tiveram razão, observo os alunos terminarem o ensino médio sem adquirir o minimo de conhecimento e principalmente responsabilidade para viver em comum unidade "comunidade".
Mas nunca mais fiz greve, sempre que tinha greve eu dava um jeito de ir em alguma assembleia, escrevia cartas para deputados, conversava com os alunos, mas nunca mais parei, achava que a minha aula tinha o poder de fazer um cidadão crítico que no futuro saberia escolher os seus governantes através do seu voto.
Em 2011, eu trabalhava também na prefeitura de Diadema e lá começou uma greve, claro que não parei, em pouco tempo os professores haviam ganho parcialmente o que queriam e já tinham retomado a sala de aula. Enfim, voltei a acreditar em greve!
Na última eleição vi o Alckimin ser eleito em primeiro turno, como pode isso? Será que só eu vejo que a cada nova invenção pior fica a educação? Nem os meus pais se sensibilizam com a situação da educação? Quando falaram em greve, decidi que iria parar, independente da opinião dos meus colegas eu iria parar, falei com o meu marido e optei pela greve.
Hoje faz 42 dias que estou em greve, não é fácil ficar em greve, gastamos em manifestações, fico muito mais tempo fora de casa do que dando aula e ao contrário de 1993 quando a greve era pública, em Santo André acredito que apenas 10% esteja em greve, somos apenas 7 parados na escola, a direção coloca eventual em nossas aulas, os cartazes que colocamos no muro lembrando aos alunos que continuamos em greve foram retirados e o governo não cede.
Não é fácil ! Não tenho mais a mesma energia que tinha em 1993, pior do que saber que terei que repor estas aulas no recesso e aos sábados, que terei meu salário cortado, das pernas doloridas de tanto andar é lidar com o ÓDIO que sinto do governador, do secretário da educação, do partido do PSDB, do deputado Machado Campos, da diretora, dos meus colegas que se omitem nesta luta.
Quero que todo este ódio seja removido do meu coração e substituído pelo amor a minha profissão.